novembro 2013 | Teresa sem medo

A Angústia da Perfeição

Comente este artigo
Perfeição FloresReclamamos a Perfeição em tudo o que nos rodeia. Buscamos essa Perfeição em tudo, em todos e em nós próprios. Uma busca de Perfeição, diga-se, que está a dominar-nos tomando contornos de tipo psicopatológico, doentios.

Pais perfeitos, filhos mais que perfeitos, maridos perfeitos, esposas perfeitas, o emprego perfeito, uma vida perfeita, corpos perfeitos, inteligências perfeitas, saúde perfeita… Tudo à nossa volta gira em função de um mundo, também ele, necessariamente, perfeito. De tal forma, que a condição de “ser perfeito” nos impõe amarras verdadeiramente angustiantes, impõe-nos esquemas de pensamento que anulam a nossa forma de estar e de sentir. Que anulam o nosso Eu. Anulam a nossa autenticidade, aquilo que realmente somos.

E de repente damos por nós a questionar tudo à nossa volta e tudo o que existe em nós: é a ruga que apareceu, é o quilo a mais, é a celulite que não nos larga, é um cabelo que branqueou (coitado do cabelo que nem pediu para assim ficar), é o tempo que chove, é o Papa “a cortar” o trânsito, é a casa que precisa de obras, é o chefe que não muda, é o filho que não estuda, é o tempo que não temos para nós, é a vida onde estamos mas que não queremos!

Francamente, quem aguenta isto? Talvez não se tenha ainda apercebido quanto tempo passa em “ruminações” idênticas. Mas acredite: de nada servirão. Assim, o que lhe proponho para este mês é que identifique quais os aspectos da sua vida (pessoal, profissional, material, espiritual, etc.) que considera imperfeitos, ou, pelo menos, onde tem pensamentos do tipo “Ah, se ao menos isto pudesse ser diferente! Seria perfeito!” Basta que escreva um aspecto que considere imperfeito em cada campo da sua vida. Por exemplo, “Sacrifico-me muitas vezes pelos outros pois não consigo dizer “não” a nada que me peçam!”.

Seguidamente, tente encontrar duas formas de resolver cada aspecto identificado. Imagine para o exemplo dado: “Conseguir dizer “não” pelo menos três vezes por semana” e “Conseguir desligar o telemóvel uma hora por dia sem me culpar!”. Ao sistematizar os aspectos negativos, tentando por si mesmo encontrar soluções, está a tomar consciência das suas limitações, e, ao mesmo tempo, a perceber que “sim!”, consegue encontrar alternativas para os aspectos menos positivos na sua vida.

O que se passa, contudo, é que geralmente encontramos um montão de desculpas para ficarmos dependentes das nossas imperfeições. Embora não gostemos delas, é sempre mais confortável para o Self viver no conforto do adquirido e do conhecido, do que fazer rupturas. Rupturas das quais não sabemos os resultados.

Ocorre no entanto, que o Mundo não é perfeito, nós não somos perfeitos, o nosso emprego não é perfeito, os nossos filhos não são perfeitos, os nossos chefes não são perfeitos. E então? Somos humanos! Valha-nos isso! A perfeição, ou a ausência dela, reside sobretudo na nossa forma de pensar. Na nossa forma de ver. Na forma como vemos os outros e os avaliamos. Na forma como nos vemos e nos avaliamos!

Permita-se pois admitir e sentir a imperfeição nalguns aspectos da sua vida. Vai sentir-se muito mais feliz!

Teresa Marta

Dominados pelo valor

Comente este artigo
Sisifo“O teu valor deixa muito a desejar!”, “Nunca pensei que deitasses por terra o teu valor pessoal!”, “Como é possível não reconheceres o meu valor?”. Estas palavras soam-lhe familiares? O Marketing, por exemplo, define o valor de um produto de forma muito simples: basicamente, o valor é aquilo que o consumidor diz que é. Neste sentido, o valor não é mensurável. Resulta da apreciação subjectiva de cada consumidor.

E o que se passa com a avaliação do valor das pessoas? Basicamente, o mesmo! O nosso valor resulta da avaliação (subjectiva) que os outros fazem de nós. Em geral, passamos a vida a tentar corresponder ao valor que os outros acham que temos. No entanto, lutar dia-a-dia para corresponder às expectativas dos outros desgasta-nos, cansa-nos, gera angústia existencial. Perdemos a noção de quem somos realmente: se nós, se a imagem reflectida de nós.

Resultado da percepção do outro, lutamos em permanência para sermos alguém de quem os outros gostem, que os outros apreciem, que os outros reconheçam, que valorizem, acabando por esquecer quem de facto somos, qual o nosso valor efectivo.

A angústia gerada por tentarmos corresponder ao que esperam de nós é ainda agudizada pelos objectivos que colocamos a nós próprios. Estamos sempre a esticar a fasquia! Queremos forçar as coisas a acontecerem, desejamos controlar tudo: nós, os outros, os acontecimentos, o tempo, a evolução natural do nosso corpo, a idade. E acabamos por nos concentrar muitas vezes naquilo que não temos, no que nos falta, no que não somos, no que não chega ou não é suficiente.

Num mundo que esgota a nossa identidade ao avaliar-nos pelo que fazemos, pela nossa beleza, a nossa riqueza ou a nossa pobreza, o nosso poder ou a nossa juventude, angustiamo-nos ao vivermos em função daquilo que julgamos dever ser. Dizemos a nós próprios, “se eu fosse mais alto, mais jovem, mais magro, mais rico, mais comunicativo, mais feliz…”, estaria tudo bem.

Mas não estaria. Porque o valor, tal como a beleza, o amor e a felicidade, começa em nós, não é algo que temos porque os outros no-lo dão. Numa perspectiva existencialista, o valor do Self está intimamente ligado à sua Singularidade. Àquilo que em nós é único, ao que nos torna efectivamente pessoas com necessidades, desejos, angústias e limitações próprias. O valor está pois intimamente ligado à nossa humanidade. Cada vez mais esquecida.

Para aumentar a sua noção auto-valor, e passar a viver uma vida mais saudável, é imprescindível que aceite as suas imperfeições. Aceite-se como é: lembre-se que está a fazer o melhor que pode, com as condições e o conhecimento que tem neste momento. Quando conseguimos sentir-nos confortáveis com que somos, ao invés de estarmos em permanência a tentar ser quem achamos que devíamos, passamos a sentir-nos muito mais seguros, e aumentamos a nossa sensação de bem-estar.

Não tem de provar nada! Porque o faz? Incomoda-o o julgamento dos outros? Não estará a sabotar o seu valor quando assume como verdadeiras as percepções que fazem de si? Sinta orgulho pelo que é! Pelo que já conseguiu! Por isso, siga em frente!

Abençoe aquilo que já tem. Todos os valores que o seu pote pessoal de valor já possui. Pode ser pouco, pode ainda não ser aquilo que deseja. Mas já o tem. É seu. Comece a reconhecer o que vale. Saiba que vale! Sinta que vale! Este é o seu dia. É o dia de expressar o seu valor! É o dia de procurar e de libertar a sua singularidade.

Teresa Marta

Sem medo de recomeçar

Comente este artigo
Já arrisquei por diversas vezes sair da minha zona de conforto. Por vezes fui bem sucedida, outras não. Conto nas estatísticas nacionais como alguém que já criou negócios que não funcionaram. Negócios que nasceram antes do próprio mercado estar preparado para eles. Ideias criativas que representavam apenas os meus sonhos e não os sonhos de muitos outros que os desejariam comprar. E não se tratou de falta de estratégia ou de planos de negócio. Como a nossa vida pessoal, a profissional também apresenta este hiato entre o que desejamos e o que nos acontece de facto.

Caminho bicicletaÉ o preço a pagar para saltar para o vazio acreditando que os nossos sonhos se podem efectivamente realizar. Para isso, temos de acreditar nalguma coisa que é desconhecida, em algo que por muitos estudos, equações ou conjecturas que façamos, não sabemos se irá dar certo.

A vida não é uma certeza e isso é a única certeza com a qual podemos contar ao longo da nossa existência. Se nada existe como certo, aquilo que podemos fazer é gerir a imponderabilidade de não sabermos como será o amanhã. Podemos escolher entre opções. Mas isso apenas nos oferece a possibilidade de, na incerteza entre uma opção e outra, garantirmos a melhor escolha face às possibilidades.

Existencialmente, a angústia gerada pela obrigatoriedade de termos de escolher, apenas consegue ultrapassar-se aceitando a incerteza. Aceitando que a maioria das circunstâncias da nossa vida estão fora do nosso controlo. Assumindo que a escolha que fizemos não foi a mais adequada. Arcando com a responsabilidade do nosso fracasso, encarando-o como uma oportunidade de fazermos melhor.

Neste processo, aquilo em que precisamos de acreditar, para começar, é em nós mesmos. Acreditar em nós deve ser a nossa escolha primordial e inicial. A partir daqui é mais simples acreditar que todos os saltos no desconhecido que façamos contribuem para o nosso crescimento e realização. Só tendo Fé em nós mesmos ficamos disponíveis para absorver e criar todas as possibilidades, ao invés de nos colocarmos do lado das limitações.

A nossa cultura do fracasso e do obstáculo faz com que nos foquemos nos nossos pontos fracos mais do que nos nossos trunfos. Como tal, aquilo que realmente temos de positivo é camuflado por aquilo que julgamos não possuir. No entanto, os acontecimentos menos bons poderão servir, simplesmente, para aprendermos algo com a situação. Não é de facto “a coisa”, como diria Martin Heidegger, que determina a forma como nos sentimos. Ao contrário, a forma como nos sentimos com as coisas que nos acontecem é o resultado daquilo que pensamos, da forma como encaramos as nossas experiencias.

Assim, a pergunta que tem de fazer a si próprio, não é se consegue sair da sua zona de conforto em segurança, sem fracassar. A grande questão que tem de se colocar é se efectivamente acredita em si, na sua resistência e na sua capacidade infinita de recomeçar.

Teresa Marta

Gerir o Fracasso

Comente este artigo
A minha actividade como gestora e formadora tem-me levado a contactar com imensa gente que já fracassou na vida. Estes exemplos que encontro não são mais do que pessoas, que como eu, e como tantos de nós, arriscaram algures a passar para o lado de fora da caixa acreditando nos seus desejos e nos seus sonhos.

Às vezes somos bem sucedidos outras não.

No entanto, a questão de base é sempre a mesma e trata-se de saber como gerimos o fracasso, como o sentimos, como o digerimos (ou não), como o integramos no nosso percurso.

Todas as sociedades têm as suas vantagens e os seus pontos menos positivos. A nível empresarial, confesso que vejo na realidade norte americana exemplos muito positivos ao verificar que gestores, empresários e profissionais das mais diversas áreas cujas carreiras e projectos fracassam, são convidados como oradores para motivar outros a seguirem o seu caminho, a mergulharem nos seus medos e a verem nas experiências de insucesso passos positivos de aprendizagem e de fortalecimento pessoal.

Por cá, passa-se algo geralmente oposto: quem fracassa é considerado um fraco, é-lhe conferida uma etiqueta de “incapaz”. A questão, em termos existenciais, é que nem todos gerimos e integramos o fracasso da mesma forma. Depende daquilo que nos disseram ao longo da vida, daquilo que nos fizeram sentir, através de situações por vezes tão simples, como entornar o copo de leite na mesa, colocar nódoas na roupa ou ter uma negativa num ou outro teste.

A verdade é que somos mais atraídos pelo fracasso do que pelo próprio sucesso. Temos uma tendência natural para a finitude, a tal “pulsão para a morte” de que nos falou Freud. Talvez porque a nossa mente integre de forma mais simples a possibilidade de falhar do que a a possibilidade de vencer (muitas vezes impossível, achamos nós). 
De facto, a maioria de nós foi treinado para a fatalidade que a vida pode ser, foi-nos dito o quão injusto o mundo é e o quão difíceis as coisas têm de ser para saberem a vitória. É o padrão luta-esforço em que fomos educados e que continua a persistir em muitas das nossas famílias, nas empresas onde trabalhamos e nas escolas em que os nossos filhos são educados.

Cabe-nos a nós, pessoalmente, em cada momento da nossa existência, escolher um caminho mais suave, mas igualmente produtivo, um caminho que não acarrete o peso da possibilidade de fracassar, mas simplesmente a leveza de avançar perante o que a vida nos dá, seja lá o que for pois nada é estranho à natureza humana.

Pratique pois a Confiança no Processo da Vida. Tudo está, por certo, a acontecer para o nosso maior bem.

Teresa Marta

Eu Aguento

Comente este artigo
Quando eu era gestora corria compulsivamente atrás de objectivos. Meta atrás de meta, vivia cada dia como uma grande parede que haveria de escalar rumo ao sucesso, mesmo que isso significasse não ter vida própria. Trabalhava desenfreadamente para melhorar a minha performance e as metas que impunha a mim mesma. E, para pior ou para melhor, conseguia-o!

Emoções? Afectos? Isso era algo menor que deixava à porta da empresa. Não digo que fosse simples. Mas era fazível. Nessa altura, o meu pensamento recorrente era: “Eu aguento!”, “Eu aguento!”. E aguentei, é certo, à custa da minha própria vida pessoal, sempre em segundo plano, da minha saúde, por vezes, e dos meus afectos.

Eu aguento

Lembro-me de muitas vezes (muitas mesmo) ter chegado à empresa num estado emocional deplorável e do esforço que fazia para mudar a minha cabeça, para tentar esquecer o que no meu interior me afligia e me magoava.


Lembro-me de um dia me ter perguntado o que pensariam os automobilistas que me viam a contornar a rotunda, três, quatro e cinco vezes, antes de me decidir a sair mesmo para chegar à empresa com o meu melhor ar de “a invencível!”. Só de me lembrar já fico cansada.

Hoje, sempre que ouço alguém dizer "Eu Aguento", penso naquela Teresa dos Objectivos, que, não sabendo parar, raramente conseguia sentir.Façam-se o favor de permitir-se parar, nem que seja por breves instantes. Aprendi que as coisas mais importantes não estão no final do percurso, mas naquilo que encontramos enquanto o fazemos.

Teresa Marta